- agosto 6, 2024
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Corte nos auxílios: Alunos da UERJ ocupam campus em São Gonçalo
Há uma semana “morando” na Faculdade de Formação de Professores, os estudantes fazem protesto reivindicando as novas mudanças para obtenção de bolsas e auxílios da assistência estudantil.
Os estudantes da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – Faculdade de Formação de Professores (UERJ/FFP), em São Gonçalo, estão ocupando o campus há uma semana em protesto contra o Ato Executivo de Decisão Administrativa (AEDA) 038/Reitoria/2024, que resultou em cortes nas bolsas e auxílios estudantis de centenas de alunos.
Motivos da Ocupação
De acordo com Matheus Rodrigues, de 23 anos, estudante de pedagogia e um dos líderes do protesto, no dia 25 de julho os estudantes receberam a notícia de que haveriam mudanças na obtenção dos auxílios de assistência estudantil. Entre as mudanças está a revisão da renda mínima necessária para que estudantes de ampla concorrência possam acessar a bolsa auxílio vulnerabilidade social (BAVS), de R$ 706 por mês. Anteriormente, para conseguir a bolsa, era exigido um salário mínimo e meio; agora, é necessário apenas meio salário.
Os centros acadêmicos se reuniram para decidir quais seriam os próximos passos após a notícia das mudanças. Assim, no dia 27 de julho, os estudantes convocaram uma Assembleia Estudantil para decretar estado de greve. No dia 29, decidiram pela ocupação imediata do campus, permanecendo no local até que a situação seja resolvida.
Impacto das Mudanças
“Fomos surpreendidos com o lançamento desse AEDA, que mudou o critério de avaliação socioeconômica, que não havia sido conversado e discutido anteriormente para que os alunos pudessem se programar. De quase 500 alunos, só 189 continuarão recebendo os auxílios, e isso tem uma importância significativa, porque essa é a nossa forma de nos manter na universidade. A gente entra 7h da manhã e muitas vezes só saímos às 22h, então não ter mais a opção de estar aqui é abrir mão de um sonho. Eu estava me programando para no final do ano fazer uma apresentação com o grupo de pesquisa no Uruguai e agora não tem mais esse auxílio”, afirmou Matheus Rodrigues, que saiu do mercado de trabalho para se dedicar inteiramente à graduação e à área de pesquisa e foi diretamente afetado pelo AEDA com o corte de sua bolsa estudantil.
As demandas dos alunos são extensas e antigas, como melhorias que precisam ser feitas no campus, mas ainda assim, o principal foco dos estudantes no momento é a revogação da AEDA 038.
“Também está na nossa pauta a reestruturação do campus em questão de acessibilidade; revitalização do espaço; compromisso da instituição em lutar pela melhoria do programa de assistência e permanência estudantil. Mas o nosso foco central é a revogação da AEDA 038”, explicou o estudante de pedagogia.
Demais Impactos e Reivindicações
“Uma coisa que também está impactando muito é que agora tem um número máximo de mães que podem receber o auxílio. Em toda a UERJ só 1300 mães podem receber, o restante precisa ficar na fila, o que está impactando bastante. Fizemos até um movimento para conseguir um espaço de acolhimento para as crianças, filhos de alunas aqui do campus, mas quando achamos que poderíamos avançar de alguma forma sobre essas políticas aqui, recebemos essa AEDA, onde muita gente está perdendo os auxílios e direitos que já haviam conquistado”, afirmou Thamiris Santos, de 31 anos, estudante de pedagogia.
Ainda segundo os alunos, a proposta da atual reitora, Gulnar Azevedo, antes de ser eleita, era manter os benefícios. Porém, alguns meses após a posse, a reitora mudou os critérios para elegibilidade de bolsas e auxílios de assistência estudantil.
“Teve a eleição dessa nova reitoria e a reitora garantiu os auxílios pelo menos até o final desse ano, afirmou que iria lutar para que propostas se tornassem projeto de lei, então a maioria aqui votou nela, diante das propostas, e se viu sem saber o que fazer com essa mudança, que nos pegou de surpresa, nas férias, porque muitos não tem como se manter. Tem gente aqui que é o primeiro da família a fazer faculdade pública e só consegue estar aqui devido a esses auxílios”, afirmou um estudante de geografia presente na ocupação.
Outros Cortes e Negociações
Outros cortes também estão previstos para os auxílios alimentação e passagem, no valor de R$ 300 cada, além da redução pela metade no auxílio para material didático, que já está em atraso há algum tempo.
“Os auxílios já estavam atrasados e alguns nem estavam sendo pagos, desde o início do ano, e deu pra ver que com esses atrasos, a faculdade fica vazia, porque não tem como a gente vir, não tem dinheiro, eles cortaram de uma hora para outra”, afirmou uma estudante de história, também presente na ocupação.
Os estudantes participaram de uma roda de negociação na última segunda-feira (5) a qual resumiram como “péssima”, visto que nenhum acordo foi feito por parte da direção do campus e nenhuma resolução foi colocada em prática. Uma nova negociação deve ser convocada até a próxima sexta-feira (9).
Ocupação e Movimentação Estudantil
Enquanto isso, os estudantes seguem ocupando o campus da FFP, se organizando e se ajudando como podem, com alimentação, limpeza, e um cronograma de atividades formativas. Os alunos também bloquearam as entradas de algumas salas como departamentos, secretarias, sala dos professores e direção, para dar ênfase ao movimento de reivindicação ao qual estão à frente.
O protesto também está acontecendo há uma semana no campus Maracanã da UERJ. Na ação, a reitoria foi pichada com dizeres ‘fora Gulnar’, pedindo a retirada da atual reitora. Segundo relatos, cerca de 5 mil estudantes da unidade irão perder os benefícios após a mudança.